Os primeiros dias de vida do pintinho, representam um ponto chave para o bom desenvolvimento de um aviário, em um período em que o animal passará por uma série de mudanças metabólicas, fisiológicas e ambientais, as quais irão ser decisivas e com reflexos por toda a vida desta ave, possibilitando ou não a expressão de todo o seu potencial genético.
Durante a fase embrionária, o pintinho é um animal poiquilotérmico, ou seja, não regula adequadamente sua temperatura corporal e depende da temperatura ambiente. Após o nascimento, eles gradualmente se transformam em animais homeotérmicos, atingindo essa característica em 4-5 dias de vida. No caso de pintinhos de matrizes mais jovens, isso pode ocorrer 1 ou 2 dias depois.
A zona de neutralidade térmica do pintinho é muito estreita, por isso é essencial fornecer-lhes uma temperatura adequada nos primeiros dias, uma vez que a temperatura corporal depende inteiramente das condições que são oferecidas a eles, a capacidade de fazer ajustes comportamentais é muita restrita, pelo fato de sua fisiologia ser ainda bastante limitada.
Nesta fase também ocorre a transição de uma dieta à base de lipídios — endógena — para uso de carboidratos e proteínas —exógena. O estimulo dos animais para comer e beber o mais rápido possível permite desenvolver o metabolismo do animal, com a consequente boa reabsorção do saco vitelino residual, o qual proporcionará um bom desenvolvimento dos sistemas digestivo e imunológico, por reabsorção dos anticorpos maternos presentes na gema.
Alcançar esta meta depende diretamente da garantia de algumas boas condições ambientais ao animal — temperatura, umidade, ventilação, intensidade de luz — e uma distribuição uniforme e adequada de água e alimentos que facilitam o início do consumo.
Alojamento
Assim que os pintinhos chegarem na granja, devemos descarregar no aviário o mais rápido possível, como forma de atenuar os possíveis efeitos negativos de algumas horas de viagem do incubatório até o seu destino. Analisando o fato de que o transporte foi realizado em caixas, Deve ser considerado também o fato de que eles foram transportados em caixas com densidades elevadas, ambiente altamente carregado de temperatura, umidade e ventilação.
Um atraso no descarregamento pode fazer com que a temperatura nas caixas suba, com o possível risco de muitos animais desidratarem, refletindo drasticamente na mortalidade.
O procedimento de distribuição em torno da área de criação deve ser da forma mais cuidadosa e homogênea possível, buscando sempre a proximidade dos pontos de água e ração.
É essencial a verificação da aparência e vitalidade dos pintinhos que são recebidos. Além de pesar algumas bandejas, comprovar a uniformidade dos pintinhos, é altamente recomendável observar o estado do umbigo, verificar a temperatura das pernas, o estado do peito, analisar possível desidratação, malformações, tarsos e bicos avermelhados. Um pintinho de qualidade deve ser ativo, ter um corpo com aparência vistosa, olhos grandes e pés brilhantes e cerosos ao toque e ter um umbigo fechado completamente.
Uma vez que os pintinhos tenham sido alojados, verifique se os bebedouros estão na temperatura altura corretas.
Temperatura
O pintinho pode sofrer perdas de calor devido a alguns fatores como:
- Radiação através do ar, por ondas, de um corpo mais quente para um mais frio. Um bom isolamento vai reduzir significativamente este problema.
- Pelo contato físico de um corpo quente para um mais frio. No pintinho essa perda é muito importante pelas pernas, ao entrar em contato com uma cama mais fria do que ele.
- Convecção: o pintinho aquece o ar, o qual se movimenta e sobe, abrindo espaço novamente para o ar frio. Com maior velocidade do ar, essa perda é aumentada de maneira acentuada.
- Evaporação: é o calor perdido pela respiração e por meio dos excrementos.
Os primeiras 3 itens estão incluídas no que é chamado como “calor sensível”, e o quarto como “calor latente”.
Quando os pintinhos chegam, eles têm uma temperatura retal de 39ºC, que aumentará para aproximadamente 40ºC em algumas horas. Se os hospedamos com uma temperatura deficiente o ambiente ficará frio, fazendo-os prostrar-se e amontoar-se em grupos para tentar diminuir a superfície de perda de calor com o ambiente que os rodeia.
Se o trabalho de pré-aquecimento for inadequado, o aviário e o chão ficarão em temperaturas baixas, causando uma perda de calor do pintinho, por condução, reduzindo seriamente sua temperatura corporal.
Mesmo em boas temperaturas ambientes, se a cama estiver fria, as perdas de calor do animal serão importantes e, portanto, o início do seu lote será prejudicado.
Os pintinhos são frequentemente vistos em algumas ocasiões dentro das bandejas dos comedouros, esse comportamento é porque o animal busca evitar contatos com superfícies frias e úmidas. O estresse térmico no pintinho ocorre abaixo de 28ºC de temperatura ambiente, causando em poucas horas uma diminuição de sua temperatura corporal.
Pintinhos que estão deitados não consomem água nem ração, o que atrasa o processo de reabsorção do botão residual, com diminuição do estímulo de desenvolvimento dos sistemas digestivo e imunológico e uma predisposição para subsequentes processos patológicos e metabólicos, como é o caso da ascite e morte súbita.
Todos esses eventos derivados de uma queda na temperatura corporal levarão a uma diminuição do peso ao longo dos 7 dias e, consequentemente, no peso final da criação, tendo maior conversão, déficit de nutrição e aumento da mortalidade na primeira semana.
Pelo contrário, quando a temperatura é excessiva os pintinhos começam a ofegar ou podem até parecer em estado letárgico. Estresse térmico devido à alta temperatura aparece a partir de 36ºC, enquanto a temperatura letal é de 45ºC.
Umidade
Um fator que devemos levar em consideração é a umidade do aviário. A umidade relativa desejada para esses primeiros dias, deve estar entre 55-70%. Ela modifica a sensação térmica que o pintinho precisa. Com alta umidade relativa — mais de 80% — o pintinho perde eficácia na respiração se tornando ofegante, então a temperatura de conforto deve ser reduzida conforme o animal está com calor. Além disso, o excesso pode afetar a cama, piorando a situação.
Ventilação
Outro fator que pode modificar a sensação térmica dos pintinhos é a ventilação. Sendo muito necessária para eliminar gases nocivos, excesso de umidade e poeira que ocorrem no interior do aviário, bem como para fornecer o oxigênio necessário. Os pintinhos são muito delicados contra altas concentrações de amônia, (detectada quando a concentração é de 140 ppm o pintinho está sendo afetado quando a concentração está acima de 40 ppm), mesmo em curtos períodos de tempo.
Deve-se ter em mente que se tivermos aquecedores a combustão dentro do aviário, o oxigênio está sendo consumido e estamos contribuindo com gases nocivos para o ar, portanto, ventilação mínima é necessária, mesmo antes que os animais cheguem.
Podemos considerar o nível mínimo de ventilação entre 0,16 – 0,4 m3 / ave / hora, dependendo da temperatura externa e da qualidade do ar.
Ao ventilar, se não estivermos direcionando o ar adequadamente, isso pode estar criando uma corrente atingindo a altura dos pintinhos, fazendo com que a sensação térmica seja muito menor do que o mostrado pelos termômetros. Portanto, devemos sempre direcionar a ventilação para cima para que o ar frio não caia sobre as aves e assim evita-se correntes de ar que geram fluxos indesejados. Trabalhando com uma boa depressão – 25 a 40 pascais – este problema é atenuado. A velocidade do ar na altura do pintinho deve ser inferior a 0,1 m / s.
Comedouros e bebedouros
Além dos cuidados com a temperatura, outro aspecto bastante importante no início de um novo lote, é o acesso a água e ração de maneira rápida e facilitada. A altura dos comedouros é de fundamental importância, é necessário garantir que haja pontos de comida e água na quantidade e distribuição correta.
Pensando nisso, por volta de 2 a 3 dias é recomendado colocar em cada linha de bebedouros, uma tira de papel de 1 m de largura ao longo da área starter – em um aviário de 12 m, com 4 linhas de bebedouros, este papel deve cobrir 25% do piso do aviário – e recomenda-se derramar sobre ele cerca de 65 g de ração por pintinho. O barulho do papel causado pela movimentação dos animais, servirá como um chamado para os demais.
Além dos comedouros é recomendado colocar bandejas e deixar por 5 dias, devemos complementar com 8 bandejas para cada 1.000 pintinhos, para que possam se alimentar mais facilmente nos primeiros dias. Devemos tentar separar essas bandejas dos pontos mais frios do aviário, como rodapés, paredes ou portas, especialmente em granjas com um mau isolamento a este nível, para que os pintinhos não cheguem de áreas frias e úmidas onde a boa inicialização pode ser comprometida. Em alguns aviários, mesmo pequenas separações podem ser colocadas que podem evitar que os pintinhos se aproximem das paredes ao longo do aviário, evitando esses pontos nos primeiros dias.
O enchimento dessas bandejas de 2 a 3 vezes ao dia nos primeiros dias tem um importante papel de estímulo no comportamento dos animais. É fundamental que o pintinho sempre encontre alimento nos pontos de alimentação. A partir do quarto ou quinto dia a ave deve começar a comer gradualmente nos comedouros automáticos.
Os comedouros automáticos devem estar cheios de ração. Muitas vezes, alguns modelos têm muita altura de borda deixando ração em uma profundidade muito grande. Para ter fácil acesso do pintinho ao comedouro, é interessante no começo, enterrar um pouco o comedouro a nível da cama para facilitar ao acesso a ração
Já para os bebedouros, a premissa será o mesmo que acontece com os comedouros, o acesso a eles deve ser rápido e fácil. O trabalho irá variar dependendo do tipo de bebedouro que temos.
Nas linhas de bebedouros tipo nipple, nos primeiros 3 dias de vida, devemos organizá-los ao nível do olho dos pintinhos e depois iremos levantando para que eles se estique para beber, com as costas formando um ângulo de 45º com o solo, mantendo sempre as pernas bem apoiadas nele. É essencial ajustar a pressão da água na linha, conforme recomendação de seu fabricante e o fluxo necessário.
Para isso, é aconselhável ter reguladores de pressão para garantir que seja igual em todo o aviário. O ideal é que todos os bicos tenham uma gota d’água pendurada para chamar a atenção da ave.
Se usarmos bebedouros pendulares, sua altura deve estar ao nível do dorso do animal, e tão cheio quanto puder, cerca de 0,5 cm da borda e diminuir progressivamente para 1,25 cm quando atingirem os 7 dias, fornecendo 0,6 cm de circunferência por frango. lembrando que este tipo de bebedouro apresenta maior risco de contaminação comparado ao apresentado anteriormente.
A água potável deve ter uma qualidade físico-química e analisada quanto a sua microbiologia.
O tratamento de água com produtos específicos irá garantir um maior controle de sua qualidade microbiológica.
É muito importante acompanhar o consumo de água diária dos animais, bem como verificar a correta utilização de produtos saneantes e realizar uma limpeza bastante frequente dos circuitos de sistemas fechados, bem como os bebedouros, no caso dos pendulares.
A temperatura ideal da água é cerca de 20ºC, por isso é interessante encher as linhas de bebedouros algumas horas antes do alojamento para evitar que a água fique muito abaixo dessa faixa de temperatura, especialmente no inverno, o que causaria uma redução no consumo e consequentemente problemas digestivos.
As necessidades por ave são:
– em bebedouros tipo nipple, 8 unidades por 100 pintinhos;
– em bebedouros pendulares, um para cada 100 pintinhos.
Iluminação
Os pintinhos são animais que durante o primeiro dia necessitam de uma alta intensidade de luz para ser capaz de estimulá-los para o consumo de ração e água e, portanto, para um bom desenvolvimento digestivo e imunológico. Se recomenda uma intensidade de luz entre 30-60 lux na altura da ave e que seja uniforme em todo o aviário. Caso não seja possível garantir esta intensidade teremos que fornecer pontos de luz adicionais.
A partir da primeira semana de vida a intensidade pode ser reduzida para 5-10 lux.
Nesta primeira semana, geralmente é fornecida luz nas primeiras 24 horas do primeiro dia, para remover uma hora do resto da primeira semana. Dependendo do programa de luz usado, mais ou menos 2 horas de escuridão após 3 ou 4 dias.
Avaliação de manejo durante a primeira semana
Cerca de seis a dez horas após a entrada dos pintinhos, podemos realizar uma avaliação da situação dos animais. A ave teve tempo suficiente para encontrar comida e bebida e regular sua zona de conforto térmico no aviário. Com uma observação geral, devem estar uniformemente distribuídos pelo aviário e com uma boa atividade.
Para verificar se a temperatura oferecida foi adequada, podemos realizar um teste de patas em 100 pintinhos de diferentes locais no aviário. O adequado é que neste período de tempo 85% apresentem as patas quentes.
Pode-se aproveitar e tocar o papo das aves para calcular a percentagem de animais que estão cheios. O conteúdo no papo deve ser de forma arredondada e com uma textura pastosa, que indicará que o pintinho comeu e bebeu, ao contrário daqueles outros papos que são difíceis de tocar em que não beberam água. Agora 85% dos animais devem ter um papo cheio. Realizando outra medição em 24 horas, devemos encontrar que o percentual é de 95%, sendo de 100%, 48 horas após a chegada,
Além dessas amostragens, durante as primeiras horas de pintinhos na granja, uma evacuação da temperatura e umidade no aviário é essencial, assim como o consumo de água dos animais.
Esses são os principais aspectos que você deve levar em consideração em sua granja. Sabemos que este é um momento da criação que gera muitas dúvidas. E pensando nisso abrimos um espaço para ajudar você! Basta deixar sua dúvida nos comentários ou entrar em contato em nossas redes sociais, que iremos tentar esclarecer.
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